domingo, 2 de dezembro de 2007

O INTERNETÊS: A MAIS NOVA FORMA DE LINGUAGEM

Daniela Sacramento de Jesus[1]



RESUMO:
Esse artigo tem como objetivo abordar a linguagem do internetês e o que a mesma tem provocado no desempenho da escrita dos alunos, a fim de trazer soluções plausíveis sobre a postura que o educador deve ter diante dessa problemática dentro da sala de aula.
PALAVRAS CHAVES: internetês, professores, alunos, internet, linguagem e comunicação.


1.O QUE É O INTERNETÊS?

O internetês é uma linguagem digital originada dos chats de conversação, mensagens de celular, blogs(diários virtuais), icq(programas de comunicadores instantâneos) e sites de relacionamento. Essa nova forma de comunicação está fundamentada na simplificação informal da escrita, com o objetivo principal de tornar mais rápida a comunicação, fazendo dela uma linguagem taquigráfica, fonética e visual. As principais características que podem ser observadas no internetês são as abreviações (fds,td,blz,etc.), os símbolos visuais(emotions), símbolos gráficos, etc. Porém, essa linguagem tem “invadido”o âmbito escolar “atrapalhando” e “confundindo”a escrita dos alunos causando assim polêmica e repúdio de alguns professores e pais que se sentem confrontados, muitas vezes sem saber como lidar com esse novo mundo, o digital. É justamente por essa falta de contato com esse contexto cultural atual que ambos se sentem intimidados. Sendo assim, qual é o papel da escola e especificamente do professor: ser intolerante às novas formas de tecnologia, ou encontrar um meio de interagir com seus alunos e o corpo escolar como um todo(isso inclui também a comunidade) a fim de garantir a livre expressão, não deixando de levar em conta a importância da nossa língua padrão?

2.IMPORTÂNCIA DO INTERNETÊS:

Para muitos autores, os blogs, chats e comunidades virtuais, entre outras formas de literatura do ciberespaço, podem desenvolver o autoconhecimento da criança e do adolescente. Porém outros escritores e linguistas, assim como o senso comum, pensam que o internetês ocasionará a extinção da nossa linguagem padrão. Pode-se analisar que o medo do novo é inerente a todos os indivíduos, pois quando não conhecemos algo, ficamos confusos em meio a duas direções: ou nos aproximamos, a fim de entender o que está acontecendo, ou nos afastamos, com medo de nos machucarmos. Esse estranhamento é extremamente natural, porém deve se desconstruir aos poucos a partir do momento em que as pessoas começarem a se apropriar do universo virtual e consequentemente entender que essa nova forma de comunicação não tornará a escrita padrão extinta.

3.OUTRAS LINGUAGENS VIRTUAIS:

Segundo a wikipédia[2], a linguagem digital não possui uma linearidade, por isso existem outras formas de comunicação mais complexas que o internetês. É o caso do miguxês, termo popular usado para definir uma forma de grafia, a qual tem como referência a linguagem infantil, sendo difundido na internet por um número significativo de adolescentes, particularmente de uma tribo chamada “emocore” ou “emo”. Contudo, o miguxês não se confunde com o internetês por não se limitar somente à internet, muito menos servir para tornar a comunicação mais rápida . O que acontece é o inverso, pois, essa forma de escrever é ainda mais trabalhosa que a escrita padrão, pois, utiliza-se do recurso de alternar letras maiúsculas com minúsculas e substituir o s por x. O nome miguxês é um termo oriundo de miguxa, um hipocorístico para “amiga”. Já o leet é uma forma de escrever o alfabeto substituindo as letras por outros símbolos, como números . O leet entra em ação como uma subcultura ligada ao universo dos jogos de computador e internet, usado para confundir os iniciantes propositalmente, sendo que para os usuários mais antigos, essa linguagem se reflete numa auto-afirmação do grupo. Dessa forma, essas linguagens virtuais se configuram de acordo com a identidade cultural de um determinado grupo de pessoas, pois, as mesmas são utilizadas como um meio de comunicação particular entre indivíduos que possuem interesses comuns.

4.O INTERNETÊS REALMENTE INTERFERE NO DESEMPENHO DA ESCRITA DOS ADOLESCENTES?

Em meio a toda variedade lingüística, muitos autores, professores e pais são contra a essa nova maneira de escrever, porque acreditam que a mesma está modificando a nossa gramática, o que não condiz com a prática, pois, a língua é tão dinâmica que muitas gírias já foram incorporadas ao nosso vocabulário dito formal(o termo internetês ainda não foi inserido no nosso dicionário) . Por que então isso aconteceria com o internetês, uma vez que o mesmo não deixa de ser uma linguagem que está ligada à uma nova cultura? Apesar de ser uma linguagem que não possui regras estabelecidas já que as mesmas são construídas pelos próprios usuários(Isso é interessante porque da mesma forma que falamos de um jeito diferente, podemos utilizar o internetês de maneira também particular), o objetivo central é se comunicar de um modo que o receptor entenda o que está sendo escrito. Diante desse contexto, a escola exerce um papel crucial em meio a essa questão, pois é papel do professor orientar quando e onde seus alunos(as) podem utilizar determinada linguagem. Nós como futuros educadores, devemos nos familiarizar com as múltiplas linguagens, assim como a difusão das tecnologias, dos neologismos, expressões e as diferentes formas de articulação.
Apesar da existência da falta de interesse de alguns educadores em relação a esse novo mundo, ser bastante presente, é necessário refletir a educação associando-a ao uso da tecnologia digital, já que a mesma faz parte do nosso contexto atual. A flexibilidade e a abertura para o intercâmbio de conhecimentos novos deve ser uma atitude contínua no cotidiano dos professores e especialistas da educação e como o uso da internet está se difundindo tanto nas escolas públicas, quanto nas particulares -pois a maioria dos estudantes tem acesso à rede, tanto em lan-houses e infocentros, quanto em suas casas e nas escolas - torna-se um dos papéis do educador preparar seus educandos para usar de maneira crítica as inúmeras formas de comunicação escrita empregando-as corretamente.

5.COMO O PROFESSOR PODE TRABALHAR O MUNDO VIRTUAL COM SEUS ALUNOS?

“Não queremos a Internet nas escolas, mas as escolas na Internet. É uma diferença fundamental. Eu quero ir ao Louvre ou a uma biblioteca na rede, mas quero também estar presente com meus valores emocionais, culturais e sociais na rede. Estando preparado para gerar conhecimentos no plural, poderei visitar outros conhecimentos... ( PRETTO, Nelson De Luca.O futuro da escola,1999)”.
De acordo com a citação acima, as escolas devem levar em conta o contexto sócio-cultural dos seus alunos, estabelecendo uma relação com o que acontece na atualidade em nossa sociedade. Sendo assim, o mundo virtual deve fazer parte do âmbito educacional, não somente como um discurso “vago” de inclusão digital, a qual não acontece na realidade, mas como parte do processo de ensino-aprendizagem, que através da utilização da rede seja como fonte de pesquisa, entretenimento ou como meio de divulgação intelectual e troca de conhecimentos, etc, virá a proporcionar mais rapidamente a interatividade entre todo o corpo escolar. Dessa forma, professor deve utilizar como conteúdos os sites mais visitados por seus alunos:
orkut, chats, etc, a fim de trabalhar porque o internetês é utilizado nesses espaços e discutir as regras da língua portuguesa, assim como a história da sua evolução.Uma outra forma interessante e prazerosa é a criação de um blog feito pelos mesmos, o qual terá como objetivo a publicação das impressões sobre as aulas, além de servir como um jornal virtual sobre os acontecimentos culturais da instituição e da comunidade, além disso, esse seria o espaço dentro do ambiente escolar no qual seria possível o uso livre da linguagem padrão, o professor então não deve comparar ou diferenciar a linguagem formal do internetês, mas, deve informar aos seus alunos sobre os ambientes em que as mesmas podem ser usadas(até porque se quisermos transgredir a nossa gramática, devemos entender como a mesma funciona, cabe ao professor deixar isso explícito).

CONCLUSÃO:

Nós educadores devemos ser flexíveis às mudanças que ocorrem na nossa sociedade, levando para sala de aula o contexto cultural e social dos nossos alunos. Dessa maneira estabeleceremos um diálogo contínuo tanto com todo o corpo escolar(alunos, funcionários,etc.) quanto com os pais sobre a importância da utilização das novas tecnologias no âmbito educacional a fim de inserir toda a comunidade no mundo digital.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:



Wikipédia: A enciclopédia livre. Internetês
[online] Disponível na internet via WWW. URL:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Internetês. Última atualização em 25 de novembro de 2007

FERREIRA, António Miguel. Dicionário De internetês.
[online] Disponível na internet via WWW. URL: http://homepage.esoterica.pt/~amcf/internetes.html. Última atualização em 18 de agosto de 1995

HANSEN, Karla. Internetês: ameaça a língua portuguesa
[online] Disponível na internet via WWW. URL: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/jornal/materia.asp?seq=227. Última atualização em 11 de abril de 2005






[1] Aluna graduanda em pedagogia 4° semestre, pela Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Educação.CC
[2] Enciclopédia multilingue on line,a qual é escrita por pessoas de todo mundo de forma colaborativa e voluntária. Sendo assim, todos artigos publicados estão sujeitos a mudanças, desde que as mesmas preservem os direitos de cópia e modificações já que o conteúdo da wikipédia está sob responsabilidade da GNU/FDL(é uma licença para documentos e textos livres publicada pela Free Software Foundation. A GNU FDL permite que textos, apresentações e conteúdo de páginas na web sejam distribuídos e reaproveitados, mantendo, porém, alguns direitos autorais e sem permitir que essa informação seja utilizada de maneira incorreta).

Nenhum comentário: